março 08, 2017

Há dias difíceis e hoje é um deles. Dias em que a saudade aperta mais do que devia. Dias em que a simples voz de uma pessoa nos faz chorar. Hoje estou assim. Chorei com a voz da minha mãe, quando a chamada de 26min terminou. Isto porque não gosto de preocupar ninguém e afinal de contas são só saudades. 
Como sabem estou a viver no Algarve mas sou de longe: 486km para ser mais precisa. Não, não estou noutro país, mas custa na mesma. Viver com o meu namorado está a ser uma experiência fantástica mas a minha família faz-me tanta falta. E a minha cadela. E o meu gato.
Lembro-me todos os dias da forma como me despedi da minha avó. Os meus olhos e os dela cheios de lágrimas mas orgulhosas como somos, sempre a negar. Entrou-me qualquer coisa para o olho - dizíamos nós. E depois um abraço apertado misturado com um chocalhanço. A minha avó é um ser tão fofinho que só me apetece amassá-la. E ela ri-se. E eu gosto de a ver rir. 
Saudades de ouvir o meu pai a dizer parvoíces a toda a hora. Saudades de acordar com as galinhas, porque o meu pai mete na cabeça que às 6h da manhã é a melhor hora para martelar paredes e 1h depois a minha mãe é cabeça de cartaz no festival dos tachos e panelas na cozinha. 
Há coisas com as quais nunca me vou acostumar e viver longe da minha família é uma delas. No entanto tenho de me habituar, porque é o ciclo da vida. Temos de sair debaixo da asa dos pais. E comigo nunca foi problema, até já passei por isso mais do que uma vez mas parece que agora custa mais. Talvez por estar a cair numa realidade em que sei que não posso ir a casa sempre que me apetece. Consequentemente posso não ter as mesmas pessoas à minha espera. Posso ter de me despedir delas sem de facto o fazer, por estar tão longe. Por não poder dar outro abraço ou beijinho.
Os meus avós estão velhinhos e doentes, uns dias estão bem e outros nem por isso. É doloroso saber que nada posso fazer para que eles se sintam melhor. Pergunto todos os dias como é que eles se sentem e vão estando bem, lá se aguentam. Não quero trazer pensamentos negativos e pensar no pior mas é inevitável. 
Há momentos na vida em que paramos para fazer análises. Momentos em que percebemos que perdemos tanto tempo com coisas tolas e sem interesse. Momentos em que nos lembramos daquele grupinho da escola e de que tinhamos prometido nunca nos separarmos. Paramos, olhamos para a frente e montamos planos, criamos sonhos. Queremos crescer profissionalmente e pensamos que dentro de uns anos vamos criar uma família. Ajeitamos planos para sermos, um dia, quem sabe, muito felizes. E eu tenho de parar para fazer essa análise. Perceber que este passo que dei é realmente importante para mim e para o meu futuro. Aceitar que a saudade não pode ser um obstáculo neste processo mas que é completamente aceitável sentir falta de quem amo. O amor tem muitas formas e muitas cores mas só um segredo o faz resistir à mudança dos mundos. O meu segredo chama-se família. O meu porto de abrigo.

2 comentários:

  1. Que relação bonita com a tua família...
    (Eu cá não tenho essa grande relação assim, temos demasiados problemas uns com os outros. Enfim, coisas)

    Mas admiro muito o passo que deste e, embora tenhas de ultrapassar esta saudade dos teus que amas, é bom saberes que eles estão sempre lá para o que der e vier. Beijinho

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    1. Obrigada minha querida. Não era assim, muita coisa má surgiu para que esta relação familiar ficasse melhor. Uma aproximação completamente diferente mas vinda de um sofrimento muito grande. A vida é assim mesmo. E lamento que no teu caso seja assim :( Muitos beijinhos

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